quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

E lá estava ele, do mesmo jeito que ele sempre esteve. Ele estava sempre distante, assistindo cada movimento que ela fazia, mas nunca, em nenhuma ocasião ele tentou se aproximar, falar com ela. Ele estava sempre olhando pra ela cuidadosa e silenciosamente.
Ela, é claro, havia notado o estranho observador há muito tempo. Quando criança, não parecia estranho pra ela achá-lo em todo lugar que fosse, mas quando a infância se foi, encontrar o garoto em viagens, encontros e esquinas tornou-se assustador, e ela não sabia como agir.
Até aquele dia. Ela saía da escola quando sentiu seus olhos em suas costas. Ela se virou para encontrar aquele garoto glorioso em suas usuais roupas brancas, apoiando-se contra um muro no outro lado da rua, parecendo relaxado e calmo enquanto a encarava. Ela olhou pra baixo e pensou, por um segundo ou dois, antes de atravessar a rua em sua direção. “Curiosidade” disse uma voz em sua cabeça “vai ser sua morte”.
Como ela nunca havia se aproximado, ela nunca havia visto a reação dele, mas ela não se surpreendeu quando ele virou as costas para ela, as bochechas um pouco levantadas enquanto ele adentrava um beco próximo. Ainda que ela tenha tentado ser rápida, quando ela chegou na entrada do beco, ela pode apenas ver as costas da camisa branca virando numa nova rua, esta cheia de pedestres. A perseguição continuou, e mesmo com a velocidade dele, ela nunca o perdeu; de alguma forma, ela sabia a sua direção.
Chegando num novo beco, ela pode vê-lo subindo as escadas externas de um edifico largo e antigo. De qualquer forma, ela ainda não havia começado a segui-lo nas escadas quando foi abordada por dois homens, cheirando a álcool e fumaça. Um deles pôs uma mão na boca dela, impedindo-a de gritar, e o outro homem sussurrou, o hálito incrivelmente desagradável:
- Shh... Quieta, garotinha. Nós não vamos machucá-la se você nos ajudar. Agora, dê-me sua bolsa, silenciosamente.
Ela demorou um tempo para mudar os pensamentos do seu garoto misterioso para os homens à sua frente. Ela não teve tempo suficiente para tirá-lo completamente da cabeça e tornar-se histérica, quando tudo ficou preto. Ela não podia ver, mas podia sentir e ouvir quando as mãos em sua boca se afastaram em passos rápidos, e um novo par de mãos, macios como ela nunca havia sentido tomaram lugar atrás de suas costas e embaixo de seus joelhos, carregando-a.
Ela provavelmente devia abrir os olhos, mas aqueles braços eram confortáveis o suficiente para se dormir um dia inteiro. Ela sentia o vento batendo no rosto e talvez, só talvez ela tenha sentido penas tocando seu corpo. Ela se perguntou se aquilo era como voar.
- Você está a salvo agora. Você nunca falará disso com ninguém. Você precisa tomar cuidado da próxima vez que decidir vagar por aí. Não há motivo para se preocupar com esse garoto que a observa. Durma agora, querida, você deve estar cansada. – Uma voz linda disse próxima ao seu ouvido e ela se sentiu obrigada a fazer o que ele dizia. Ela adormeceu ouvindo uma canção de ninar desconhecida. Ele sonhou com ele.
Quando ela acordou horas depois em sua cama, com sua mãe chamando-a pro jantar, era como se nada houvesse acontecido, mas pra ela, tudo estava diferente. Os sonhos incríveis, o delicioso cheiro em suas roupas, a canção vinda de lugar nenhum em sua cabeça e a única pena em sua cama a fizeram entender. Mas ela não podia falar pra ninguém.

Beijinhos,
Isabel Padilha. 02/12/10

3 comentários:

  1. Oie tudo bom?
    Coincidentemente encontrei seu blog e adorei **
    sempre vou estar aqui visitando,
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    -jmsdramqueen.blogspot.com
    se gostar pode seguir ;
    bju flor .

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